quinta-feira, 31 de julho de 2008

O Tudo no Nada: Questões

por Pedro Gabriel.



Acredito que grande parte do "ser filósofo" é ensinar, aos outros, a filosofar. É levantar as questões que aqueles que ainda não se perderam (ou se acharam) em seus pensamentos deveriam estar fazendo se quisessem alcançar uma maior consciência frente a Humanidade e a si mesmos.

Seguem algumas questões que julguei interessante fazer em relação ao conto apresentado na postagem anterior, "O Tudo no Nada", e algumas outras que foram enviadas pelos nossos leitores.

Com relação aos comentários: não sei o por quê, mas não está funcionando. Eles chegaram via e-mail mesmo! Já estão trabalhando na solução para este problema. o.O

1 - A Felicidade tem hora marcada?
2 - Pode o Homem, controlar estes momentos de Felicidade? (Fazer a Felicidade durar para sempre?)
3 - Como o Homem define a Felicidade? Quais os mecanismos empregados nessa definição?
4 - Como o Hábito influencia a Felicidade?
5 - Questiona-se a Felicidade e seus motivos?
6 - Como estas perguntas influenciam nossa definição de Infelicidade?
7 - Felicidade existe?
8 - Quais as causas da Felicidade?
9 - É possível ao Homem, satisfazer-se?
10 - Até onde podemos controlar a Sorte?
11 - Esta Sorte já foi definida por Deus?
12 - Será que nosso livre arbítrio é limitado as regras pré-definidas por Deus?
13 - Deus define as leis morais do homem ou o homem define as leis morais de Deus?
14 - Deus define alguma coisa?
15 - Há Deus?
16 - Será, a causa motora da Infelicidade, a própria Felicidade?

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Perguntas, meus amigos. Várias perguntas e garanto-vos: São muito mais importantes (e interessantes) que as respostas encontradas, afinal, (fora da matemática) não há resposta inesgotável, isto é, que não seja base para outras perguntas.

Tens respostas e desejas partilhá-las? Tens outras perguntas e gostaria de fazê-las?

Envie-nos um e-mail (pedrofilosofia@gmail.com) ou deixe seu comentário.

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o.O

sexta-feira, 25 de julho de 2008

O Tudo no Nada


Francisco vivia na Caatinga. Já com seus quatro anos de idade, nunca tinha visto nada além da seca. A pouca água que bebia e partilhava com sua família e vizinhos de sertão, nunca passava de um balde barrento. Sua mente infante, sem conhecer muito além das cercas do terreno de sua casa, sem ir a escola, sem conhecer pessoas além da seca, nem mesmo concebia uma realidade diferente daquela. Quando sonhava, sonhava com pedras, folhas secas e cabras magras pois não conhecia o verde.

Até que um dia, algo estranho e inédito em sua vida aconteceu. Sentiu sua respiração mais leve. Os baldes que sua mãe utilizava para o transporte daquele néctar barrento, não estavam mais eu seus lugares mas, sim, espalhados pelo quintal de sua casa e, como que por milagre, cheios de água.

Francisco e seus cinco irmãos logo correram para fora de casa. Suas roupas estavam encharcadas pela água que caia. O menino nunca havia presenciado evento mágico como aquele. Nem mesmo o nascimento de seus dois irmãos mais novos deixaram-no tão estupefato. Ele não sabia o que era aquilo, mas logo abriu sua boca e deixou aquele líquido gotejar goela a baixo. Era água, mas ele nem pensou nisto. Sua mente estava maravilhada com aquele evento. Ele só fez brincar e se banhar nas poças de lama que se formavam sob seus pés. Riu-se até engasgar. Bebeu até esquecer a fome.

O dia passou e levou consigo a escuridão do céu deixando para trás um outro céu com uma escuridão mais profunda e com estrelas. Também foram-se as forças dos poucos músculos que cobriam os ossos de Francisco.

O menino sentou-se, deitou-se e dormiu ali mesmo, entre duas poças de água e lama. Quando acordou, o Sol já brilhava alto e forte num céu tão azul que enchia o peito de agonia.

Francisco chegou a duvidar do que havia acontecido no dia anterior. As marcas de suas pegadas na lama seca, já não apresentavam sinal algum das águas que nelas repousaram. Os baldes de sua mãe, que transbordavam água límpida como nunca havia visto, jaziam secos. Suas roupas estavam secas e cobertas por uma terra vermelha que lhe entupiam o nariz.

O menino chorou. Chorou e debateu-se como se não houvesse amanhã.

E não houve amanhã.

Para Francisco, os dias que se seguiram foram cinza. O menino, que já comia pouco, agora negava a pouca comida que lhe era oferecida. Sua pele ganhou a mesma cor de seus dias. Ainda uma criança, Francisco tornou-se um morto-vivo. Seco como o ar que respirava. Porém, nestes dias, a caatinga ganhou vida.



A pequena roça de sua casa, que não passava de terra cavucada, agora, regada, era morada de pequenos brotos de abóbora e milho. A mãe de Francisco já não voltava para casa com um único balde água barrenta, agora, com os açudes cheios, a água fartava. Os galhos secos e espinheiros que enfeitavam a vista da caatinga, agora ganhavam tons verdes e flores. Até mesmo as poucas cabras esqueléticas que perambulavam pelo quintal da casa de Francisco ganharam alguma carne e passaram a prover leite. Aquele cenário desolado, seco de vida, coragem e amor, agora tornava-se um oásis as portas do paraíso!

Mas Francisco permanecia cinza.

Ele nunca desejara estas coisas. Na verdade, nunca concebera estar cercado por tanta vida e fartura. Francisco não via nada além da realidade a que ele estava habituado e duvidava, perguntando para si mesmo se seria possível todo aquele nada estar repleto de tudo.

Mais quatro anos se passariam até o dia em que voltasse a cair água do céu.

Os cinco irmãos de Francisco logo correram para fora de casa. Suas roupas estavam encharcadas pela água que caia. O menino que já havia presenciado tragédia como aquela, ainda não sabia como aquilo se chamava. Mas, da janela de sua casa, logo abriu sua boca e deixou aquele líquido gotejar goela a baixo. Era água! Mas ele nem pensou nisto. Sua mente estava estarrecida com aquele evento. Enquanto todos estavam destraídos, ele só fez correr através dos fundos de seu quintal até alcançar o açude mais próximo. Chorou-se até engasgar. Deixou-se afundar naquelas águas e afogou-se até esquecer a fome.

Ao chegar ao céu, Francisco esteve com Deus e este o perguntou:

- O que fizeste meu filho? Vi-te triste por anos a fio e quando volto a enviar-te as águas, resolves encerrar tua própria vida?

- Não desejava a morte, Senhor. Porém, não suportaria que aquilo se acabasse - respondeu Francisco.

- Mas a Chuva sempre tem hora para acabar - explicou-lhe Deus.

Então Francisco descobriu o nome que se dava a água que caia dos céus e, do alto dos oito anos de sua vida passada, disse ao Senhor:

- Mas a mesma regra não deveria se aplicar à Felicidade de um Menino.

Então Deus sentiu-se culpado.