domingo, 18 de dezembro de 2011

Luto pelos nossos filhos!

(texto publicado em 14 de julho de 2007)
(meu ponto de vista ainda não mudou)




Eu não conhecia João Helio Fernandes.

Sua família e conhecidos são estranhos para mim, mas, também, chorei por ele. Fiquei horrorizado com a selvageria que aqueles seres desafortunados, alguns menores de idade, foram capazes de fazer com esta criança.

É impossível dizer que não sabiam quais seriam as conseqüências de seus atos e me refiro, não apenas ao brutal assassinato,  mas, também, à atitude de armarem-se, à atitude de atacarem outros seres humanos e, também, à atitude de tomarem através da força bruta bens de outrem.

Toda esta tragédia, seguida por tantas outras que viraram notícia nos jornais ou não, estas últimas, talvez, ainda mais penosas, pois ninguém foi até a casa destes para consolá-los, perguntá-los sobre a sua decepção com a sociedade, com o governo ou o que acharam da derrota do Brasil na copa de 2006!

Eu acredito que esta deve ser a maior decepção com o mundo em que vivemos atualmente: a nossa IGNORÂNCIA em relação às tragédias que ocorrem em lares vizinhos aos nossos, os assassinatos "invisíveis" que ocorrem nos bairros "perigosos" de nossas cidades, apesar do fato destes bairros estarem cada vez mais próximos de nossa casa.

Nesta sociedade onde cada um olha cada vez mais para o próprio umbigo, onde a "farinha" é sempre pouca, fomos deixando de olhar para nossas vizinhanças achando e que o cancêr da miséria e da violência ainda estivesse longe e, agora, somos "pegos de surpresa". Muitos cobram atitudes do Governo, mas tenha certeza povo brasileiro, vivemos sim numa democracia, sob um governo que é do povo e que reflete a imagem do próprio povo! Quando dizemos que o Governo não liga pra nós, que o Governo não quer saber da educação, que o Governo não liga pra nossa insegurança, nós estamos apontando para o reflexo do que nós fazemos em nossas próprias casas.



Nos perguntamos no que dá na cabeça de alguém para que este resolva arrastar um garoto por quilômetros preso pelos pés a um cinto de segurança: "Que força ou entidade maligna teria dito para estes rapazes fazerem o que fizeram?", "Quem disse que eles podiam fazer isto e sairem impunes?", "Quem disse que eles poderiam fazer isto?"...
Eu pergunto: QUEM DISSE QUE NÃO PODERIAM?


Será que a sociedade ensinou a estes rapazes que não se faz uma coisa destes a criatura alguma? Será que a sociedade deu motivos para que estes rapazes a respeitasse? Será que fomos capazes de ignorar estes rapazes enquanto ainda eram crianças? Será que estamos ensinando aos nossos filhos o que é o certo, não só com palavras, mas com o exemplo? Será que seremos capazes de ver nossos filhos atrás das grades e sobrevivermos a um horror como estes? Será mesmo que nossos filhos são responsabilidade nossa e só nossa?


Os filhos dos nossos vizinhos que passam fome em casa, os filhos dos nossos vizinhos que veêm os pais sem saber como pagar as contas atrasados a três meses ou mais, os filhos dos nossos vizinhos que passam o dia inteiro nas ruas e temem o momento de voltar pra casa com medo do pai-bêbado e da mãe-aterrorizada ao ponto de não saber se defender e as suas crias, os filhos dos nossos vizinhos que sentem a falta de uma mãe e/ou um pai em seus lares, os filhos dos nossos vizinhos que acordam pela manhã e voltam a dormir na noite sem, ao menos, ver o pai ou a mãe que se desdobra em 3 ou 4 empregos diferentes para por comida em casas, os filhos dos nossos vizinhos que não sabem o que é Natal mas veêm nossos filhos brincando com suas bicicletas novas e os nossos próprios filhos...

Não, não está errado dar brinquedos a nossos filhos, dar-lhes roupas novas, pagar escola particular ou passear em carros importados. Errado é ignorarmos os nossos vizinhos e seus filhos e não fazermos nada para ajudá-los!



Sim, o Brasil inteiro deve ficar de luto, mas luto pelos nossos próprios filhos que hoje, dia 14 de Fevereiro de 2007, dia em que nós mesmos estaríamos condenando-os a serem vistos como marginais em potencial, serem expostos a sociedade como cânceres, passíveis de linchamento ou de serem julgados da mesma maneira que os chefes de quadrilha ou governantes tiranos de países destruídos pela guerra e pela fome.


Estaríamos sim, jogando nossos filhos que roubam pães na padaria pra dividir com os companheiros de semáforo na mesma jaula dos leões que raptam, roubam e matam gerentes de bancos e dos monstros que traficam drogas e matam seus clientes, ou devido a uma dívida não paga ou devido a falência de seus órgãos sujeitados às substâncias danosas.
 
Não é esta a solução e acho que consegui apontar alguns de nossos erros. Devemos buscar outra solução ou, mesmo, soluções.
 
Eu penso nisto e acho que todos deveriam pensar, mas enquanto estivermos sob esta ameaça, permaneço de luto pelos nossos filhos, justamente, porque LUTO PELOS NOSSOS FILHOS. Lute você também, mostre ao mundo que a sociedade brasileira não se deixou vencer desistindo de seus filhos.
 
 
por PEDRO GABRIEL PEREIRA DE OLIVEIRA, UM BRASILEIRO QUE TAMBÉM ACORDOU TARDE MAS SABE QUE AINDA A SOLUÇÃO PARA O MUNDO, BASTA UMA MUDANÇA DE CULTURA.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

(Des)Humano

 (tenho hora que eu acho que era melhor ser surdo!)

Ontem, estava na rua quando passou, na TV, uma notícia sobre os terríveis experimentos que os EUA realizaram na Guatemala. Daí uma moça que estava próxima disse, antes que a reporter terminasse de dar a notícia:

"Não estou nem aí... se for com gente eu não ligo. Só tenho pena de bichinhos."

Daí, a reporter concluiu, dizendo que as cobaias eram doentes mentais. E a pessoa "corrigiu":

"Ah, não... aí não pode. Tadinhos! Doentes mentais são muito indefesos."

Quase vomitei ao perceber que os outros que estavam em volta concordavam sem se dar conta de que ela havia colocado doentes mentais e animais no mesmo nível, merecedores de mais respeito do que outros seres humanos. Pode até parecer bonito, mas não é isto que eu entendo por igualdade e respeito pelos seres vivos.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

O que é Consciência?

(shiva, o criador mitológico do Yôga)


NA MINHA OPINIÃO, o simples fato de alguém se dizer "budista" significa que ele não entendeu o que Buda queria dizer. A mesma coisa se aplica a quem se diz "cristão".

Sobre conjecturar sobre o que é "consciência", basta pegar um dicionário Michaelis e consultá-lo. Já, discutir, "Consciência" (com "c" maiúsculo), seria outra história,  mas utilizar as palavras, que são produto do intelecto, portanto, produto de um meio rude para compreensão da Consciência, é a mesma coisa que discutir sobre futebol ou política - trata-se de mera opinião (doxa).

O maior erro de todos é julgar que Consciência ("cósmica") e consciência ("individual") sejam coisas desconexas, que não têm ligação. Este é o erro da maioria dos ocidentais, principalmente dos que já estiveram inseridos na cultura cristã, muito influenciada por Aristóteles e por Santo Agostinho, grandes filósofos que separaram "Homem" (individual) e "Deus" (cósmico).

Não há divisão ou separação do "Cósmico". Não há como regredir, nem transcendê-lo.

Sua "consciência", não é (estritamente) sua personalidade. É isto e MUITO mais.

A cada dia que passa e quanto mais eu estudo mais me convenço de que a melhor maneira de atingir a compreensão deste conceito é a prática do SwáSthya Yôga devido à suas ligações diretas ao Sámkhya (filosofia especulativa) e o Tantra (filosofia comportamental).

O Budismo professado pelo Dalai Lama é tântrico, mas este não é o budismo mais "autêntico", isto é, o que mais se parece ao budismo original, porém, por ser tântrico, NA MINHA OPINIÃO, é o que tem mais afinidade com minha idéias - mas isto, de maneira alguma, torna-me "budista".

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Salvar ou não salvar uma vida?



(questão levantada no blog do Instrutor do Método DeRose, Marco Carvalho, em 9 de janeiro de 2011.)

Ontem no meu banheiro um pequeno bezouro marrom estava sendo atacado por milhares de formigas. Ele se contorcia, fugia, tentava se salvar, mas pelo visto o veneno das picatas estava fazendo efeito. Ele corria e logo se contorcia, parecia sentir muita dor, ou o veneno das picadas estava atrapalhando sua coordenação motora.

A princípio não iria interferir, mas assim que virei as costas pensei:

- Ahimsa, aquele que não defende um inocente, podendo defender, acumplicia-se do ato.

“Ok”, pensei comigo. Peguei um cotonete e coloquei próximo as patas do besouro que a esta altura já estava de costas ao chão. Coloquei-o próximo a janela e ele ficou parado sobre o cotonete. Hoje fui ao banheiro e encontrei-o mumificado preso a teias de alguma aranha que deve estar satisfeita com sua refeição.

As perguntas:

1. Adiantou salvá-lo das formigas?
2. Era a hora do besouro?
3. Quando é a hora de ajudar?
4. Quando é a hora de deixar acontecer?

Para a primeira eu acredito que sim, pois eu podia salva-lo. Já da aranha eu não podia, pois não estava presente, se estivesse salvaria. Assim como salvaria um gato sendo atacado por um cachorro. Ou um cachorro sendo atacado por um “cerumano” (os da espécie homo-imbecilis). Ou tentaria salvaria aquele que amo de algum infortúnio.

Se nossa mãe estiver em perigo eminente, quando próximos não mediremos esforços para ajudar, mas se estivermos longe não poderiamos… logo, acredito que fiz o que deveria ter feito em relação ao besouro.

Já as outras perguntas eu deixo você responder de acordo com suas crenças…


(minha resposta)

Já que a proposta é uma espécie de discussão aberta, vou me arriscar atrevendo-me a expandí-la.

Há vários aspectos que devem ser analisados, mas comecemos pela evolução natural das espécies.

Tanto a evolução das espécies quanto o equilíbrio ambiental são dependentes diretos da cadeia alimentar.

Por exemplo, se resolvessemos salvar todos os mosquitos evitando que eles sejam comidos pelos sapos de uma determinadalagoa, intervindo na cadeia alimentar deste sistema, acabaríamos extinguindo os sapos, que morreriam de fome e tendo uma super-população de mosquitos, que poderiam procriar tranquilamente sem seus predadores naturais. Isto seria desastroso.

Utilizando este mesmo cenário, se nos abstermos de intervir no equilíbrio ambiental, possibilitaremos que tanto os sapos quanto os mosquitos sobrevivam e evoluam. Mas, evoluir? Como?

A cadeia alimentar ajuda nesta evolução eliminando os mosquitos mais fracos e lentos pois estes seriam presas fáceis para os sapos - somente os mosquitos mais "espertos" procriariam mantendo uma linhagem genética "melhor". O mesmo ocorreria com seus predadores, os sapos, pois somente os mais rápidos conseguiriam capturar mosquitos suficientes para sua sobrevivência.

Ok. Esta seria uma análise darwiniana que, apesar de parecer óbvia, religiosos discordariam e tem outro aspecto "negativo": é muito utilizada para justificar o neoliberalismo e a "lei do mais forte" no mercado, defendendo que o Estado não deveria intervir neste "equilíbrio natural" defendido por Adam Smith. Ao meu ver, este equilíbrio mercadológico onde quem tem mais devora quem tem menos deveria ser chamado "equilíbrio selvagem" para combinar com o capitalismo que, não por acaso, também é denominado "selvagem".

Dando continuidade ao raciocínio e voltando para questão levantada, observemos a evolução da própria espécie humana.

O Homo Sapiens Neanderthalensis, conhecido como Neanderthal devido as suas características genéticas não conseguiu adaptar-se e sobreviver à competição com o Homo Sapiens Sapiens, nosso atual estágio evolutivo segundo os historiadores naturais.

Todas as espécies tem por instinto mais primitivo a sua preservação e sobrevivência. Depois da "ascenção" do Homo Sapiens Sapiens não tivemos nenhum outro "competidor" na face da Terra e, graças ao nosso polegar opositor e ao lóbulo frontal cerebral desenvolvido, pudemos, nós mesmos, criar nossas "evoluções artificiais".

As ferramentas criadas pelo homem são grandes aliadas na MANUTENÇÃO de nossa espécie.

Por que o destaque na palavra "MANUTENÇÃO"? Para explicá-lo citarei duas invenções humanas importantíssimas: o medicamento e a prótese.

Na natureza, excluindo-se o homem, qualquer ser adoentado está fadado a morrer. Se este não tiver tempo para procriar, acaba ajudando na evolução de sua espécie pois sua linhagem genética suscetível a determinadas doenças é eliminada deixando que apenas os espécimes mais saudáveis procriem.

Fato semelhante ocorre com seres que nascem deficientes. Algumas espécies de animais simplesmente abandonam os filhotes que nascem com dificuldades de locomoção, sem alguma parte do corpo ou mesmo, com partes que não funcionam corretamente. Mais uma vez a espécie "ganha".

O que isto tem a ver com a "manutenção" da espécie humana?

Quando usamos medicamentos para manter vivos espécimes humanos que não tem condições de sobreviver sem o uso deles, acabando permitindo que sua linhagem genética perpetue-se, passando para a próxima geração o "defeito" de ser suscetível a determinadas doenças.

Como exemplo de prótese, utilizarei os óculos, que nada mais são do que olhos postíços. Qualquer animal, excluindo-se o homem, que nasça sem enxergar bem seria incapaz de locomover-se adequadamente e de escapar de predadores. O homem míope que seus óculos, vive tão bem quanto qualquer outro ser e, mais uma vez, tem a oportunidade de manter sua linhagem genética.

Darwin, cientista, diria que medicamentos e próteses seriam uma "infração" a lei da evolução da espécie. Um tipo de trapaça, que, no fim das contas, não permite a EVOLUÇÃO genética de nossa espécie, mas apenas uma MANUTENÇÃO de genes. Alguns religiosos defenderiam o mesmo ponto alterando o argumento, dizendo que o homem estaria se intrometendo nos "desígnios divinos" e neonazistas fariam a festa com o argumento de que uma limpeza genética estaria apenas "seguindo as leis da Natureza".

Até aqui, de tudo que escrevi, nada se parece com uma resposta ou argumento. São apenas proposições. Como todo bom filósofo, prosseguirei neste caminho.

Qual seria o ponto de vista da filosofia em relação a "salvar o besouro ou deixá-lo morrer" (achou que eu já tinha me esquecido do assunto, né?)

Se conhecemos a lei de ação e reação (karma) então temos consciência de que AGINDO OU NÃO-AGINDO estaremos gerando karma, isto é, agindo ou não, todos nós colheremos o resultados das nossas ações (inclusive da ação de não fazer nada).

Apesar não ser hindú, assumo as leis de ação e reação e de livre arbítrio como as únicas coisas absolutas e inquestionáveis no Universo e delas não podemos escapar.

Como não posso evitar o karma em meu atual estágio evolutivo, salvar ou não salvar o besouro ou qualquer outra criatura, daria na mesma. Como os conceitos de "certo" e "errado" estão ligados ao meu próprio julgamento (meu arbítrio), desde que eu esteja consciente e pronto para o resultado que colherei de minhas ações, karma nenhum será negativo.

Então, concluindo e, finalmente, dando a minha resposta, não importa qual será o argumento que você utilizará para justificar suas ações. Se você vai embasá-la na Ciência, na Religião, na Filosofia ou no Horóscopo, isto é contigo. O que importa é que você tem que estar consciente de que, na verdade, salvando ou não o besouro, o único que poderá emitir um julgamento é você mesmo.

Desde que você possa dormir em paz com tuas ações e consciente dos resultados destas, faz o que tu queres. Há de ser tudo da lei (da ação e reação)!

É isto.